quarta-feira, 24 de junho de 2015

Memória

Ninguém se lembra da história da ladeira da memória. Talvez poucos saibam onde fica, até mesmo quem se senta em um dos 17 degraus da escadaria ou passa um tempo parado em frente à fonte seca, decorada com azulejos que remetem à escravatura.

Na ladeira da memória, em uma tarde de quarta-feira, três jovens com os rostos pintados como palhaço comem pão e presunto com a fome voraz da primeira refeição do dia, talvez comprada com o que sobrou do ganho do dia, menos o custo do aluguel.

Eles estão de costas para um grupo de 6 bailarinos (5 mulheres e 1 homem) que faz uma performance nas escadarias da fonte, em frente a um obelisco. Eles se contorcem, levantam os braços, abaixam o corpo, balançam a cabeça, elevam as pernas. Ninguém nota. Os que notam, pouco se importam.

Em outro canto da ladeira, cinco homens conversam e riem enquanto fazem um cigarro. Outro grupo fica encostado à fonte, segurando caixas desmontadas de papelão e capas de celulares pirata penduradas nesta estranha vitrine reciclada. Talvez estejam esperando a fiscalização ir embora do ponto na rua acima, na Xavier de Toledo, Centro de São Paulo.

Ninguém se lembra da história da ladeira da memória. Ninguém se lembra dos que passam pela Ladeira da Memória. Ninguém se lembra. Ninguém se.

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