segunda-feira, 31 de março de 2014

Poesia Desconexa #1

a vida passa
e abril chega
todo sem graça
daqui a pouco é páscoa
e eu ainda não desembrulhei meu presente de natal

terça-feira, 11 de março de 2014

Eu acenderia um cigarro

Nesta hora em que quero escrever um texto, eu acenderia um cigarro.
Na caminhada na Paulista às 3h, de mãos dadas, eu acenderia um cigarro.
Na conversa entremeada de duplo sentido, eu acenderia um cigarro.
Entre um sorriso e um beijo, eu acenderia um cigarro.
Depois do sexo, eu acenderia um cigarro.
Enquanto espero a água na chaleira ferver para um café, eu acenderia um cigarro.
Na caminhada até a padaria, eu acenderia um cigarro.
Quando o programa na TV é chato, eu acenderia um cigarro.
Quando caminho em direção ao supermercado, eu acenderia um cigarro.
Um pouco antes do almoço, ou logo depois da refeição, eu acenderia um cigarro.
Enquanto espero dar  a hora do trabalho, eu acenderia um cigarro.
Na portaria do trabalho, antes de subir e bater ponto, eu acenderia um cigarro.
Após a jornada, um pouco antes de ir embora, eu acenderia um cigarro.

Acenderia um cigarro como se fosse o último grito de liberdade.
Sentir o tic tac. 7 minutos, algumas tragadas.
Esperar o tempo queimar entre os dedos. Fazer dele o que quiser.

Acenderia mais um cigarro.

Abriria a carteira e puxaria um cilindro branco. Colocaria na boca. Seguraria com os lábios. Acenderia um isqueiro. O click da engrenagem. O fogo. A aproximação. A tragada. Acendeu. Mais uma tragada. A corrente sanguínea carrega pelo corpo a nicotina e as outras mais de 420 substâncias tóxicas. A cabeça tombaria para trás e a fumaça seria liberada para cima. Prazer.

Em todos os momentos em que penso em acender um cigarro, deliro com o prazer imaginário de uma tragada profunda. Sentada na sacada, tragada profunda. Sentada no sofá, tragada profunda. Sentada na poltrona, tragada profunda. Sentada na mesa, tragada profunda. Esperando no ponto de ônibus, tragada profunda. Andando mais devagar para queimar o cigarro todo, tragada profunda.


O prazer não consumado é quase tão bom quanto a fumaça no corpo.